Coleção Mistérios do Rio do Peixe editora FTD

Confira aqui a entrevista para o site da editora FTD sobre a coeleção
Entrevista - Tiago de Melo Andrade
Data:21/5/2012
Área: Notícias Editora
Quando ainda cursava Direito, Tiago de Melo Andrade publicou o livro A caixa preta em 2000 e, com ele, ganhou o Prêmio Jabuti de Autor Revelação em 2001. Mesmo terminando a faculdade, foi o mundo da literatura que ele escolheu e nunca mais parou de escrever. Agora já são 30 livros infantojuvenis publicados, contando com as obras da nova coleção Mistérios do Rio do Peixe, publicada pela FTD e que será lançada no próximo dia 26 durante a Bienal do Livro de Minas. Na entrevista a seguir, Tiago conta um pouco mais sobre as histórias curiosas que encontraremos na coleção, o processo de criação de suas personagens e como é para o autor a aventura de se escrever um livro. Confira!

FTD: Muitas pessoas deixam a primeira formação para ser escritor – como você fez. Qual é o grande barato de ser escritor?
Tiago de Melo Andrade: Eu acho que não tem como ser escritor sem ser leitor. Ao escrever, temos uma sensação parecida com a de ler. E acho que quem gosta bastante de ler, acaba se arriscando em escrever algo. Agora, o barato de escrever um livro está na questão da profundidade. Quando você lê, você dá um mergulho maior do que ver TV, por exemplo. Ao escrever então, o mergulho é ainda mais fundo.

FTD: Como surgiu a ideia de escrever as histórias de Mistérios do Rio do Peixe? No que você se baseou? O local realmente existe?
TMA: Meu pai, quando criança, morou em uma fazenda, em uma época em que não tinha energia elétrica, não tinha nada. Era na região do Triângulo Mineiro, em especial o Distrito do Rio do Peixe, que é um distrito da cidade do Prata, próxima a Uberaba – uma região bem seca, que fica meses sem chover. Minha ideia era mostrar para as crianças de hoje como era viver no passado, sem tantos recursos em volta. Afinal, o que as crianças faziam? Do que brincavam? E meu pai sempre me contava o quanto era divertido, quantas aventuras eles viviam, coisas que eu, que vivi na cidade tanto tempo depois, não vivi. Acho que a falta de recursos exigia muito mais criatividade das crianças, pois elas tinham que inventar brincadeiras com o que tinham: a laranja era uma bola, pegavam um pedaço de árvore, uma linha e faziam um brinquedo. E se divertiam muito! Acho que a tecnologia é boa, mas não colabora muito a imaginação.

FTD: Entre as histórias narradas na coleção, teve algum que te marcou mais quando você ouviu?
TMA: Sim, alguns: a cidade das aranhas, por exemplo, era próxima à casa do meu tio e elas dominaram o lugar, cobriam várias as árvores de teia e era impossível passar pela região. Tinha também uma árvore que todo ano ficava coberta por taturanas. Também coloquei outras histórias do cotidiano da fazenda no passado, como por exemplo, o dia de matar o porco, ou então, quando alguém ficava doente, não havia médico e tinham recorrer a uma pessoa, que conhecesse as ervas... na fazenda em que meu pai vivia então, nem isso tinha. O médico era um livro, com todas as doenças, os sintomas e os remédios listados.

FTD: E as personagens, como surgiram?
TMA: Acho que sempre criamos os personagens nos baseando em quem conhecemos. Meus personagens são a mistura de elementos de várias pessoas que conheci, como meus tios, meus avós... Também conversei com várias pessoas que moraram na fazenda e que tiveram essa vivência no campo. São três irmãos nas histórias de Mistérios do Rio do Peixe, mas na real, meu pai tinha onze irmãos. E me inspirei em traços de todos eles.

FTD: Os temas que você aborda em seus livros são bem variados e para o público infantojuvenil. Você pensa em escrever algo para outro público?
TMA: Em meu próximo livro, devo abordar algo mais diferente. O livro chama-se A Estrela Mecânica e sai em agosto. É um livro de ficção científica, sobre um planeta que é invadido. Neste coloquei menos o humor e o peso é maior no suspense e na ação.

FTD: Você estará no lançamento da coleção Mistérios do Rio do Peixe neste fim de semana, durante a Bienal do Livro de Minas. Como é para você participar de eventos literários ou atividades pedagógicas em escolas?
TMA: Eu gosto de estar nesses eventos, pois o trabalho de escritor é meio solitário. Então é interessante participar dessas atividades, visitar escolas, pois podemos ver como o texto chegou até o leitor. Às vezes as reações são bem diferentes do que você imagina. Escrever um livro é como lançar sementes e não saber que planta vai dar. É interessante ver esse resultado.

FTD: Você fez Direito e agora estuda História. Estes cursos te influenciam na hora de escrever as histórias? Como?
TMA: Acho que tudo que está em volta acaba te influenciando. O ambiente que a gente vive, o que acontece no momento, o que você vê no jornal, música, arte... tudo vai ter repercussão no seu trabalho. E é claro que a academia dá alimento para criar as histórias. Não só nas humanas, mas nas exatas também, ao estudar Física, Química... O autor é na verdade um grande observador e interpreta o mundo que vê. Hoje em dia, por exemplo, com a internet aí, temos acesso fácil a muita coisa e fica difícil distinguir o que realmente é bom. Acho que o autor faz uma espécie de garimpo nessas informações, tenta notar, numa loja bagunçada, por exemplo, achar algo interessante, novo, diferente.

FTD: Além de escrever, que outras atividades você também curte fazer? E se fosse para você escolher outra profissão, qual seria?
TMA: Gosto principalmente de um bom papo com a família e com os amigos, reunir as pessoas de que eu gosto... Acho que se pudesse escolher seria professor.

FTD: Você tem autores preferidos? Quais?
TMA: Sim tenho alguns: Mário de Andrade, Gabriel Garcia Márquez, José Cândido de Carvalho, Guimarães Rosa, Fernando Sabino e Campos de Carvalho são alguns dos meus favoritos, entre outros.

FTD: Bartolomeu Campos de Queirós (falecido neste ano) deu uma declaração sobre o que seria o fenômeno literário: seria algo como “a fantasia do escritor, dialogando com a fantasia do leitor e construindo uma obra que nunca vai ser escrita". Para você, qual seria o fenômeno literário?
TMA: Eu acho que é a capacidade de o escritor levar o leitor para outro lugar. De por meio da linguagem, levar as pessoas para um mundo imaginário. Ao ler um livro, você sai do mundo. O escritor é o guia e um livro tem que ser escrito por um bom guia, que levará o leitor para um bom lugar. Acho que esse fenômeno é um conjunto de fatores. A gente guia, mas quem fala se o passeio foi bom, é o leitor.

Tarde de autógrafos: Tiago de Melo Andrade estará no estande da FTD na Bienal do Livro de Minas dia 26 de maio, sábado, às 16 horas, no lançamento da coleção Mistérios do Rio do Peixe

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